sexta-feira, 8 de outubro de 2010

A NORDESTINA CIDADE DE SANTO AMARO


O filme A Máquina é uma fábula que conta a história de Karina uma personagem que cansada da pasmaçeira da cidadezinha de Nordestina e atraída pelas imagens da televisão sonha em ser atriz e partir de sua cidade natal “para o mundo”. Karina vive dizendo que em Nordestina não tem nada. Não tem praia, não tem shopping, não tem Pepsi Twist... Daí, o personagem Antônio, filho do tempo, resolve viajar para o “futuramente” e promete trazer “o mundo” até ela, pois dessa forma, impede que Karina saia de Nordestina. Assim, Antônio viaja pelo tempo e além de causar um alvoroço na pacata cidade acaba atraindo para lá os elementos (os meios de comunicação, as imagens, jornalistas, fotográfos) que fazem parte “do mundo” que Karina tanto sonha em fazer parte.

Bem, e o que é que a cidade de Nordestina tem a ver com a cidade de Santo Amaro e com a chegada do Projeto Lanterninha ao colégio Municipal Edvaldo Machado Boaventura?

Pra inicio de conversa, se no colégio Aurelino Mário (Cachoeira) estreamos com o filme Pro Dia Nascer Feliz, lá no colégio Edvaldo Machado Boaventura (Santo Amaro) iniciamos o nosso trabalho com uma sessão do filme A máquina para 4 turmas da sétima série (matutino e vespertino). No inicio, pensamos em exibir este filme por ele ter uma linguagem acessível, ser mais dinâmico e por conta disso poderia ser facilmente “digerido” pelos alunos daquela cidade. A nossa experiência com a exibição em Cachoeira nos fez pensar se começaríamos exibindo documentário ou não.

E lá vamos nós, com mais um dia de frio na barriga, pois outra estréia acontecia...

Em meio a tanta insegurança e ansiedade fomos surpreendidos (assim como em Cachoeira) por uma estréia belíssima. A exibição aconteceu linda e a discussão mais linda ainda. Diante de tantas falas (sobretudo dos alunos do turno vespertino) teve uma que me chamou especialmente a atenção e que serviu de inspiração para a escrita deste texto. Foi quando uma das alunas disse durante a discussão que na escola “não tinha nada” (igual a Nordestina) e que estávamos (talvez como o personagem Antônio) levando “o mundo” até eles. Quando ouvi isso, a ficha caiu na hora e eu entendi (mais ainda!) o sentido e a importância da presença do Lanterninha numa cidade pequena, longe dos grandes centros urbanos e com “um tempo” e singularidades (assim como Nordestina) diferente do mundo de cá.

De fato, o projeto Lanterninha através dos filmes que exibe tem conduzido estes meninos a outros mundos. Mas também os trazem de volta para o mundo deles (quando eles fazem uma reflexão sobre si mesmo, suas atitudes) para o mundo do outro (quando entram em contato com os personagens dos filmes) e para o mundo da escola e da sala de aula. O que tenho percebido é que a presença do cinema naquela escola tem trazido outro sentido e possivelmente mudado a relação deles com aquele espaço.

Já exibimos nesta escola o documentário Meninas, (que por sinal, para a nossa surpresa, foi exibido pela professora Mônica antes da nossa primeira sessão e ela nos contou que foi muito positivo. Confiram o relato dela em nosso site!) e os curtas 10 centavos e Carreto. A cada sessão eu (e Clissio) saímos eufóricos e muito emocionados com o que vemos e ouvimos de cada menino e menina desta cidade. O cinema no colégio Edvaldo Machado Boaventura tem seduzido tanto e gerado um encantamento tão surpreendente que as sessões acontecem de uma forma muito tranquila. Há um silêncio e uma concentração durante as sessões que é algo incrível (numa escola, com mais ou menos 70 adolescentes entre 15 e 17 anos, dentro de uma sala de aula porque lá não tem auditório).

O que isso significa? Pra mim o silêncio deles é uma resposta ao trabalho da gente. Aquele silêncio fala muito. Não é um “calar” que signifique medo, inércia, repressão, falta de capacidade de se expressar (eles fazem colocações fantásticas após a sessão!). É um calar que revela o quanto que eles foram “fisgados” e estão encantados com esse mundo mágico e totalmente imersos no ritual de ver filmes. E é isso que a gente deseja. Que estes jovens se permitam a cada sessão adentrar e aprender com mundo alheio e com seu próprio mundo.

Por: Daiane Silva

Coordenadora Pedagógica

Nenhum comentário:

Postar um comentário