terça-feira, 14 de setembro de 2010

O PROJETO LANTERNINHA EM CACHOEIRA



SEQUENCIA 01: A ESTRÉIA
No dia 11 de agosto de 2010, o projeto Lanterninha iniciou as sessões de cinema no Colégio Municipal Aurelino Mário, localizado no município de Cachoeira, Recôncavo Baiano. Como se tratava da nossa estréia (com alunos do ensino fundamental e de outro município), naquele momento, era quase impossível esconder a ansiedade e o nervosismo. Ops! Era a estréia do Lanterninha no Recôncavo, era a minha estréia como coordenadora pedagógica do projeto e era a estréia de Clissio como monitor. 
Ou seja, tudo era estréia, tudo era novo, desafiador, instigante e por isso haja-lhe frio na barriga. 
O primeiro filme que escolhemos para ser exibido foi o documentário Pro Dia Nascer Feliz. Em Salvador, sempre estreamos nas escolas exibindo este filme, pois, como bem colocou o nosso educador Fábio Costa, durante a nossa reunião pedagógica, este filme é uma espécie de “carta de intenção” do projeto. É como se quiséssemos dizer a comunidade escolar o que queremos quando nos propomos a conduzi-los (assim como fazem os Lanterninhas das salas de cinema) à experiência e à magia do cinema. E, por coincidência, o Colégio Aurelino Mário estava comemorando a semana do estudante. Portanto, nada mais oportuno (pensou eu e a diretora da escola) que exibir um filme que tem a escola como principal cenário e a estudante Valéria (que é poetisa, tem uma história bem linda no filme e é uma jovem da zona rural) como uma das “personagens”.
Pois bem. Depois de conversarmos bastante, reunião pra lá, avaliação pra cá, decidimos exibir este documentário...
A sessão foi surpreendente e deu super certo! No pátio, tudo coberto com papel metro (para escurecer), cadeiras arrumadas e mais ou menos 150 alunos (do matutino e vespertino) sentados e de olhos bastante atentos aguardando a exibição começar (incrível como eles observavam a mim e a Clissio montar os equipamentos). Enfim, a sessão começa. Alguns alunos continuam em seus lugares. Mas, no decorrer da exibição, a maioria começa a dispersar, levantar, sair, resmungar...
xiiiiiiiiii (eu pensei) será que deu tudo errado? Mas eu não disse pra vocês, no inicio do parágrafo, que deu tudo certo? Calma aê leitor...

SEQUENCIA 2: OS IRMÃOS LANTERNINHA E OS IRMÃOS LUMIÈRE

Que deu errado nada!!!! Esta sessão serviu, acima de tudo, para nos conhecermos, nos avaliarmos e para a gente se aproximar ainda mais deste publico e daquele espaço. Um público lindo, muito especial e que tem suas especificidades, peculariades. Descobrimos (em conversa com um grupo de professores após a sessão) que aqueles jovens são, em sua maioria, oriundos da zona rural e que por isso saem de suas casas as 04 da manhã para ir pra escola. Durante a exibição eles começaram a sentir muita fome (eles chegaram as 07hs e a sessão começou as 09hs) uma das razões que levaram a dispersão, desconforto e incomodo.
Descobrimos ainda que aqueles jovens nunca foram ao cinema e também não são acostumados a ver filmes naquele espaço (principalmente documentários ou filmes que tenham outro ritmo). Então era tudo novo para eles também. Era a estréia destes meninos e meninas naquele ritual. Era o primeiro contato deles com a equipe, com aquele gênero filmico, com escurinho do pátio, com o ato de sentar e ver, durante mais ou menos uma hora e meia, imagens em movimento brotando de um telão. 
Era uma novidade só. Tudo era novo pra eles e pra gente.
Naquele momento me lembrei de uns textos sobre a história do cinema, que nos dizem a respeito da experiência dos irmãos Lumière (os criadores do cinematográfo) quando projetaram pela primeira vez, em Paris, o filme A Chegada do trem na Estação de Ciotat. Os livros nos contam que, nesta época, os espectadores reagiam com bastante espanto ao que estava sendo visto e que durante a exibição do filme A Chegada do Trem na Estação de Ciotat o público assustou-se ao imaginar que aquele trem que se aproximava na tela fosse invadir a sala de projeção...
De fato, o nosso publico também reagiu nesta reagiu. Naquele momento pensei no que se passava pela cabeça e coração daqueles meninos e meninas ao verem as imagens e ouvirem os sons do filme Pro Dia Nascer Feliz saindo do telão. Será que acharam estranho? Se espantaram? Acharam chato? Belo?
Bem, nunca li textos que relatassem o que os Irmãos Lumière acharam ou pensaram a respeito da reação daquele público. Eu sei é que os Irmãos Lanterninha avaliaram positivamente a sessão (revemos a programação e horário das exibições) e pensam que alguma coisa da magia do cinema penetrou na mente daqueles jovens. E que este mundo encantado e cheio de possibilidades já invadiu aquela escola. As sessões continuam (já exibimos o filma A Máquina, Bicho de 07 Cabeças, Besouro para professores e alunos da sétima e oitava série) e nós continuamos a inventar e experimentar formas de conduzi-los ao encantado mundo da sétima arte.  

Por Daiane